ADVOGADOS INICIANTES.
INVESTIR NO PRÓPRIO NEGÓCIO É OPÇÃO PARA OS ADVOGADOS INICIANTES Mas para abrir um escritório é necessário competência e contatos Jornal O Fluminense – Domingo, 08, e segunda-feira 09/08/2010 Especial Direito & Advocacia |
Advogar é uma das possíveis carreiras para os graduados em Direito. Para exercer a profissão não é necessário muito equipamento nem acomodações luxuosas, basta abrir um escritório. Quem está na área há muito tempo afirma que a maior dificuldade dos iniciantes é a captação de clientes, que vão proporcionar a manutenção das instalações e o sustento dos profissionais. Para garantir o sucesso da empreitada, especialistas apontam para soluções para os problemas frequentes que acabam levando os iniciantes a fechar portas: falta de clientes e gastos desnecessários.
O especialista em marketing jurídico Alexandre Augusto Giorgio, que atua há dez anos na área aconselha que antes de abrir um escritório o jovem advogado já tenha passado por estágios, parcerias ou mesmo no departamento jurídico de alguma empresa. Para ele, as instâncias diferentes permitem que o jovem vivencie o dia a dia da profissão, como idas ao Fórum e cartórios, além de promover o contato com clientes. Além disso, o essencial é a divulgação, que não pode ferir o código de ética da Ordem dos Advogados do Brasil que proíbe ações de propaganda.
“Para o advogado iniciante, estabelecer redes de relacionamento é fundamental. A Internet é a opção mais democrática e barata que o advogado pode utilizar. Montar um blog recheado de informações de interesse público tem se mostrado eficiente na construção da imagem do profissional. Participar de fóruns de discussão, posicionar-se usando o LinkedIn, Facebook e Twitter são opções gratuitas, mas que exigem trabalho contínuo do profissional” comenta. Outra opção sugerida por Giorgio é registrar o domínio e montar o seu próprio site. Mas nada vai funcionar se o profissional esquecer de manter esse site atualizado e linkado às demais ferramentas de redes sociais.
Início – Já a coordenadora do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da Universidade Candido Mendes Niterói, Ana Cristina Melo Cardoso, explica que o retorno financeiro só começa a aparecer mesmo depois de três a cinco anos de trabalho. Para isso, é aconselhável que o advogado tenha feito uma poupança que permita que ele trabalhe com alguma tranquilidade, sem depender dos honorários das causas, pelo menos no princípio.
“Uma boa dica é procurar um cliente fixo, de preferência uma empresa. Nesse ramo são comuns principalmente vagas para quem defende causas trabalhistas. Sindicatos também costumam oferecer postos de trabalho para advogados, que paga um salário fixo mensal e ainda deixa tempo livre para ser investido na carreira”, resume.
Ana Cristina diz ainda que no começo é preciso realizar de tudo um pouco, mas com o tempo o profissional pode se especializar em alguma área especifica. A Coordenadora aconselha que o recém-formado não aceite trabalhos em áreas com as quais não tem nenhuma afinidade, para não comprometer o desempenho.
“É preciso fazer concessões no início e algumas vezes trabalhar numa área que não é a sua preferida. Mas isso acontece em todas as profissões liberais. O importante é não desistir e batalhar pelo que realmente interessa, que a formação da carreira profissional”, orienta.
Sem Custo
A Subseção de Niterói da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) oferece uma oportunidade para o início na carreira de advogados recém-formados, que não contam ainda com seu próprio espaço de trabalho. Um escritório compartilhado, que pode ser utilizado por todos os profissionais de Direito, foi montado, em parceria com a Universidade Candido Mendes, no segundo andar do prédio da sede da entidade, localizada no Centro da cidade.
Os gabinetes utilizados nos atendimentos foram equipados com ar-condicionado, computadores, Internet, telefone e fax. A estrutura oferece ainda secretária e ajudante, café e água. Os advogados podem utilizar as instalações por até quatro horas semanais, gratuitamente. Outra vantagem que surge no trabalho compartilhado é que os profissionais mais novos podem contar com a experiência de colegas mais tarimbados que estejam utilizando a instalação, além do acompanhamento da coordenação. Os advogados podem agendar a utilização das salas pelo telefone 2618-0520.
Trabalho compartilhado
Giorgio diz que as formas clássicas de começar no ramo, como dividir o aluguel com alguns amigos, sublocar uma sala ou atender nos escritórios compartilhados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) são muito boas, mas mesmo com os custos reduzidos, é preciso ter planejamento. Ele destaca que para ter sucesso com essa forma de atuação é necessário ainda ter perfil empreendedor e defende ainda que advogar não depende das instalações. Para ele, ao abrir um escritório de advocacia, o profissional passa a enfrentar problemas típicos de qualquer empresário ou empreendedor, acumulando a função de administrador à rotina da prática do Direito, o que consome muito tempo e energia.
“Passa a lidar com aluguel, conquista e manutenção de clientes, pagamento de salários, ponto de equilíbrio de caixa. Ele passa a ser tanto, ou mais, um empresário quanto um advogado. Para quem quer advogar, prefere o dia a dia técnico e não quer se preocupar com a manutenção de negócio, o recomendável é trabalhar num escritório já estabelecido, departamento jurídico de empresa, ou seguir carreira na magistratura.
O presidente do sindicato dos advogados do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Batalha, defende que a advocacia é uma função de vocação. Para ele, uma boa meta de carreira é começar como estagiário num escritório, passar a advogado associado e depois então, com experiência acumulada, se tornar sócio.
“Quanto mais profissionais dividem a responsabilidade do escritório, sobra mais tempo para advogar. A prática vai proporcionar um melhor desempenho, a criação de referências para o futuro e muita aprendizagem. O processo é lento, pode levar muitos anos, por isso é bom planejar e começar com calma, sem afobação”, aconselha.
Registro na Ordem
O conselheiro da OAB Niterói Hildebrando Afonso explica que o escritório do advogado precisa ser registrado na Ordem.
“O estabelecimento vai estar submetido às contribuições municipais, estaduais e federais como qualquer outro estabelecimento, mas não é viabilizado na junta de comércio e sim com registro civil”, esclarece.
Hildebrando Afonso esclarece, ainda que a Ordem só fiscaliza os escritórios quando há oferta de vagas para estágio, para garantir que as condições de aprendizagem estejam sendo cumpridas, como oferta de material de consulta, biblioteca, acesso à Internet e orientação profissional. De resto, o profissional é livre para exercer o Direito em todo o território nacional.
“Trabalhei algum tempo em outro estado e morei em um hotel às custas da empresa que me contratou. Meu escritório era, portanto, no quarto onde me hospedava e isso nunca me atrapalhou no exercício de minhas funções”, explica.